sábado, 9 de maio de 2015

'Quem saiu mais machucado fui eu', diz Richa sobre confronto do dia 29


Governador do Paraná divulgou nota para comentar mudanças na gestão.
Segundo ele, episódio foi 'lamentável sob todos os lados'.

Samuel Nunes e Marcelo RochaDo G1 PR e da RPC

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), pediu desculpas nesta sexta-feira (8) ao povo paranaense pelo confronto que deixou mais de 200 pessoas feridas no dia 29 de abril, em frente à Assembleia Legislativa. Na ocasião, manifestantes que eram contra as mudanças na previdência estadual, que seriam votadas na Casa, foram repreendidos por policiais militares com balas de borracha, cães, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e jatos d´água.
As declarações foram feitas à RPC, durante a tarde. Esta foi a primeira vez que ele falou após as demissões ocorridas no alto escalão do governo. Desde o confronto, os secretários de Educação e Segurança Pública pediram demissão e o comandante geral da Polícia Militar solicitou o afastamento do cargo. (Veja a íntegra da entrevista no vídeo acima)
Richa disse que o governo e o Sindicato dos Professores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) devem se desculpar pelos desdobramentos do confronto. “Queremos pedir desculpas ao sindicato dos professores à sociedade paranaense e à sociedade brasileira pelo ocorrido”, disse. O governador disse que se sente entristecido pelos desdobramentos daquele dia. "Eu acho que quem saiu mais machucado, ferido, de todo esse confronto que houve, fui eu, na alma”, afirmou.

Porém, para Richa, faltou um exemplo de democracia por parte dos sindicatos que participaram da manifestação. O principal deles era a APP-Sindicato. “Não dá para permitir a invasão de uma instituição que tem 54 deputados, que foram eleitos pelo voto popular e têm a legitimidade para representar cada um dos paranaenses. Aí sim faltou a democracia, o entendimento, o respeito a um Poder Legislativo constituído pelos paranaenses”, afirmou.
Nota pública
Ainda nesta sexta-feira, Richa publicou uma nota no Facebook, na qual comenta as decisões tomadas após o confronto. Segundo o governador, o fato foi "lamentável sob todos os lados". "Não pouparei esforços para restabelecer o diálogo com os servidores e com a sociedade paranaense, porque é nisso que eu acredito, no entendimento, na busca do bem comum". O governador ressaltou que "toda e qualquer forma de violência deve ser repudiada". "Sofro com isso mais do que você possa imaginar. Quem me conhece sabe que sempre fui uma pessoa acessível, aberta, uma pessoa do diálogo", afirmou. (Leia a íntegra abaixo)
O governador também aproveitou para ressaltar pontos do projeto que levou os professores estaduais à manifestação. O texto, aprovado pelos deputados e sancionado por Richa logo no dia 30, alterou a gestão de recursos da previdência estadual, conhecida como ParanáPrevidência. De acordo com o texto, cerca de 30 mil aposentados deixariam de ser pagos com dinheiro do Tesouro Estadual e passariam a receber com recursos do fundo da ParanáPrevidência, mantido pelos funcionários ativos há 17 anos.
"Ao contrário do que alguns tentaram dizer à população, as mudanças na ParanaPrevidência não retiram nenhum direito dos servidores públicos. O Estado também não vai sacar os recursos lá depositados, que só podem ser usados para o pagamento de aposentados e pensionistas", pontuou Richa. Segundo ele, o estado ainda vai continuar pagando parte das aposentadorias.
Por fim, Richa pediu aos paranaenses compreensão. "O Paraná precisa do esforço e do compromisso de cada um de nós para seguir adiante. Vamos virar a página do 'quanto pior, melhor'. Vamos acreditar que as crises podem e devem ser superadas. Com trabalho, determinação e verdade. Toda a estrutura do Governo está mobilizada para alcançar os resultados que o Estado precisa e merece", disse.
Mais de 200 feridos
O confronto entre os policiais e os manifestantes deixou mais de 200 pessoas feridas. Os professores faziam um protesto em frente à Assembleia Legislativa, quando, segundo a Polícia Militar, um grupo tentou empurrar a grade que separava os policiais e os manifestantes. A PM reagiu e avançou com o uso de balas de borracha, cães, jatos d´água e o uso de bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. No lado dos manifestantes, alguns reagiram com paus e pedras à ação policial.
Policiais que faziam um cerco ao prédio da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) entram em confronto com manifestantes em Curitiba, durante protesto contra votação de projeto que promove mudanças na Previdência estadual (Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)Defensoria Pública e OAB negaram a presença de
'black blocks' entre os presos
(Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Estadão
Conteúdo)
Além do saldo de feridos, houve 14 detenções, sendo 12 adultos e dois adolescentes apreendidos. Inicialmente, o governo defendeu que todos eram integrantes de grupos radicais, conhecidos como "black blocks". Contudo, a informação foi contestada pela Defensoria Pública do Paraná e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). As duas instituições afirmam que não há provas que liguem os detidos a tais grupos.
Na quinta-feira (7), estudantes universitários de Londrina, no norte do Paraná, disseram ao Ministério Público que sofreram abuso policial após serem detidos no confronto do dia 29. Uma das jovens afirmou que policiais à paisana, ou seja, sem a farda, a deixaram nua durante a revista. Outro afirmou que foi xingado e humilhado pelos policiais.
Vários inquéritos foram abertos para apurar as denúncias de abuso policial na ocasião. O Ministério Público diz que vai investigar o caso dos jovens. A Polícia Militar e a Polícia Civil prometeram apurar as responsabilidades de ambos os lados, dos policiais envolvidos e dos manifestantes que reagiram.
Leia a nota do governador:
Toda e qualquer forma de violência deve ser repudiada. Sofro com isso mais do que você possa imaginar. Quem me conhece sabe que sempre fui uma pessoa acessível, aberta, uma pessoa do diálogo.
A verdade é que o confronto nunca é desejável. Principalmente para quem, como eu, cultiva valores éticos e cristãos. Sempre acreditei que o respeito às ideias divergentes é um dos pilares da democracia e não posso concordar jamais com atitudes que coloquem em risco a vida de alguém. Venha de onde vier, a violência e a intolerância são sempre condenáveis.
Ao contrário do que alguns tentaram dizer à população, as mudanças na ParanaPrevidência não retiram nenhum direito dos servidores públicos. O Estado também não vai sacar os recursos lá depositados, que só podem ser usados para o pagamento de aposentados e pensionistas.
O que houve foi apenas uma alteração no plano de custeio de aposentados e pensionistas. E o Estado do Paraná continua sendo o responsável maior pelo pagamento desses benefícios.
Para que você tenha uma ideia, mesmo com a mudança, o Estado vai continuar gastando R$ 380 milhões por mês com o pagamento de 106 mil aposentados e pensionistas. Já a contribuição dos servidores continuará sendo de R$ 75 milhões por mês.
O nosso maior compromisso é com todos os paranaenses, que esperam mais investimentos em serviços essenciais, como saúde, educação e segurança, em obras de infraestrutura vitais para o crescimento econômico e a geração de novos empregos.
Por tudo isso, peço humildemente a sua compreensão. O Paraná precisa do esforço e do compromisso de cada um de nós para seguir adiante. Vamos virar a página do “quanto pior, melhor”. Vamos acreditar que as crises podem e devem ser superadas. Com trabalho, determinação e verdade. Toda a estrutura do Governo está mobilizada para alcançar os resultados que o Estado precisa e merece.