sábado, 9 de maio de 2015

Ex-diretor da Câmara reforça suspeitas sobre Cunha, diz Janot


Servidor disse que senha do deputado foi usada para criar requerimentos.
Documento serviria para pressionar empresário; defesa diz que não há prova.

Renan Ramalho e Mariana OliveiraDo G1 e da TV Globo, em Brasília

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou que informações prestadas num depoimento de um ex-diretor de informática da Câmara à Operação Lava Jato "reforçam as suspeitas" sobre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no esquema de corrupção da Petrobras.
A afirmação consta de documento disponibilizado nesta sexta-feira (8), que descreve uma coleta de dados realizada na Câmara nesta semana como parte das investigações sobre o deputado.
A diligência contém depoimento de Luiz Antonio Souza da Eira, servidor demitido por ordem de Cunha após a revelação de dados de requerimentos da Câmara supostamente usados por ele para pressionar um empresário a pagar propina ao PMDB.
"As informações prestadas por Luiz Antonio Souza da Eira, a seu turno, reforçam as suspeitas de que os arquivos foram de autoria do deputado federal Eduardo Cunha e apenas inseridos no Sileg [Sistema de Informações Legislativas da Câmara] pela então deputada federal Solange Almeida", afirmou o PGR.

No depoimento dado a três procuradores e um delegado da Polícia Federal no dia 28 de abril, Eira confirmou que dois requerimentos apresentados em 2011 pela ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), atual prefeita de Rio Bonito (RJ), tiveram seus arquivos eletrônicos originais criados a partir de uma "senha pessoal e intransferível" em nome do usuário "Dep. Eduardo Cunha".

O servidor, diz, porém, que cabe à deputada explicar por qual motivo consta o nome do deputado no documento, posteriormente apresentado por ela na Câmara.

O depoimento de Eira foi realizado por causa da declaração do doleiro Alberto Youssef, que, em sua delação premiada, relatou que os requerimentos foram feitos para pressionar o empresário Júlio Camargo a continuar a pagar propina ao PMDB. Nos papéis, havia cobrança de explicações sobre um contrato celebrado entre a Mitsui, de Júlio Camargo, e a Petrobras.

Cunha e ex-deputada negam suspeitas
Desde que surgiram as suspeitas, Cunha nega que tenha elaborado os requerimentos, atribuindo sua autoria a Solange. Em depoimento, a ex-deputada negou ter atuado em favor de Cunha, mas que também não se lembrava do teor dos requerimentos e nem de seus desdobramentos após a apresentação.

Questionado sobre o depoimento de Eira, o advogado de Cunha, Antônio Fernando de Souza, diz que as informações prestadas pelo ex-diretor "não conduz a nada e não prova nada". "O fato de estar registrado no gabinete dele não quer dizer nada", afirmou.

"O Ministério Público está fazendo carnaval em cima de fato irrelevante. A senha dele pode ter sido usada, sim, mas não foi ele quem fez o requerimento. Muitas pessoas usavam o gabinete, outros deputados. Além disso tudo, esse fato é irrelevante porque o requerimento não tem consequência nenhuma. Tirar a conclusão é uma ilação, não tem fundamento. O MP não tem outros fatos para investigar e fica se agarrando em bobagem. Nós, defesa, estamos despreocupados porque não há nada nesse inquérito", completou o advogado.

Em seu depoimento, Eira também conta que foi demitido por ordem de Cunha para "dar um exemplo para a Casa que não aceitaria vazamentos", segundo lhe relatou o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio. O servidor, porém, explicou que os dados da Câmara que mostram o deputado como autor dos arquivos não foram vazados, mas estão na internet.

A defesa de Eduardo Cunha já protocolou pedido no Supremo para arquivar as investigações, apontando que as delações de Júlio Camargo e do ex-diretor Paulo Roberto Costa não corroboram as afirmações de Youssef sobre o deputado. O pedido ainda deve ser levado a julgamento pelo plenário, em data ainda não definida.