segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Livros e poemas podem salvar uma praça de Curitiba


Moradores do Hugo Lange, Alto da XV e Cristo Rei criam movimento para repensar binário na região, que pode acabar com quatro jardins

BemParana

Ao passar pela ciclovia que ladeia a linha do trem, pequenas placas indicam a minibiblioteca, com livros que podem ser compartilhados por quem resolve parar (foto: Franklin de Freitas)
Quem costuma utilizar a ciclovia que corta desde o bairros Cabral, passando pelo Hugo Lange, Alto da XV até o Cristo Rei, ladeando a linha do trem, vai encontrar surpresas. Uma delas está no Jardim Poeta Leonardo Henke, que fica localizado na Rua Itupava no cruzamento com o Trilho do Trem/ciclovia. Ali, indicado por placas, está a Minibiblioteca Ilha de Camões. A ação faz parte de um movimento popular, que além de arte e cultura, pretende lutar para preservar os espaços de convivência da região, incluindo o Jardim, que corre risco de desaparecer.
A minibiblioteca é um espaço democrático que faz parte de um eixo do movimento Longa Vida ao Arquipélago de Camões, um movimento cívico popular criado recentemente que busca repensar a forma como Curitiba está se desenvolvendo.
“A Minibiblioteca acaba sendo até comovente, porque ela é de todos. E de repente tem gente lendo livro, doando. As vezes vemos até moradores de rua lendo”, conta Dráuzio Almeida, um dos idealizadores do movimento. “A Minibiblioteca não tem controle de ninguém, é autogestão mesmo, conceito de livro livre. Ela está aberta 24 horas e se você gostar de um livro, pode levar”.
A minibiblioteca colocada ali pelo movimento, com apoio da comunidade, é também um grito pela preservação dos espaços de convivência da população. “As praças tem uma finalidade não só de uso, mas também são importantes no aspecto urbanístico. Elas representam uma beleza para a cidade. É muito melhor você ter uma cidade com calçadas largas, espaço verde”, diz.
O movimento foi criado depois do anúncio de um projeto que coloca em risco algumas praças e jardinetes da região. A Prefeitura de Curitiba anunciou investimentos para a melhoria do transporte coletivo e da mobilidade. Entre as obras está prevista a revitalização da Linha Inter 2, que entre outras obras prevê a construção de mais um binário (duas vias paralelas de mão única em sentido contrário) constituído pelas ruas Camões e Padre Germano Mayer.
Mas para implantar o binário, quatro praças podem ser sacrificadas — Largo Isaac Lazzarotto (que seria dividido ao meio), Jardinete Professor Oswaldo Dória, Jardinete Aline Cordeiro Parigot de Souza e o Jardim Poeta Leonardo Henke, onde foi colocado a minibiblioteca.
Para o movimento Longa Vida, muito além da questão de necessidade ou não da obra, está o aspecto humano que envolve a cidade. “As praças, como se sabe, são ambientes de convivência, de lazer. Mais que isso, representam a beleza para a cidade”. Num cálculo feito “por cima”, Dráuzio estima que cerca de 1.000 árvores serão cortadas com a obra.
Para Almeida, o primeiro questionamento a se fazer é se, de fato, a obra que acabaria com quatro praças é algo necessário, já que a rua Germano Mayer não tem tráfego intenso nem congestionamento. “O Inter 2, se não me engano, utiliza apenas duas ou três quadras da Germano Mayer. O Cabral/Portão, aí sim, usa mais. Só que a rua é tranquila, não tem congestionamento. Não parece uma obra que tenha, de fato, uma demanda. então começamos a repensar esse projeto, principalmente porque ele é violento, a intenção é derrubar quatro praças”, reclama.