segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Mulheres dividem espaço com homens em obras de habitação no Uberaba

No canteiro de obras do conjunto Moradias Primavera, no Uberaba, os homens já não são maioria. Lá, os 33 operários estão dividindo espaço com 10 mulheres que foram contratadas há cerca de 15 dias e estão tendo um desempenho surpreendente. "Elas são mais caprichosas, mais rápidas e mais esforçadas que os homens", atesta João Batista de Fabri, que coordena os trabalhos no canteiro.
O Moradias Primavera é um loteamento que faz parte do programa habitacional do município.


Ele tem 103 unidades e suas casas e sobrados estão destinados ao reassentamento de famílias que vivem em situação de risco nas vilas Lorena e Savana, duas ocupações irregulares próximas onde a condição dos moradores é extremamente deficiente, em função do adensamento excessivo e da precariedade das casas.
As mulheres que estão trabalhando na obra fazem parte das comunidades que serão atendidas pelo projeto. Foi delas a iniciativa de procurar a empreiteira responsável pelas obras a procura de trabalho. Em grupo, elas foram até o canteiro e conseguiram a colocação. Algumas chegaram lá sem experiência nenhuma e logo demonstraram habilidade para aprender os segredos do ofício.
Segundo Fabri, a idéia inicial era encaminhar as mulheres para a pintura das unidades, mas como elas manifestaram interesse em outras áreas da construção, também estão recebendo tarefas diferenciadas. Na concretagem, por exemplo, elas tiveram um desempenho acima da expectativa: três mulheres em meio dia de serviço fizeram o mesmo que cinco homens demoram dois dias para concluir. "Elas tem vontade de trabalhar e não fazem corpo mole", diz o coordenador.
Eloína Aparecida Martins, moradora da Vila Savana há 26 anos, era a única do grupo de mulheres que já tinha entrado num canteiro de obras. Ela costumava ajudar o ex-marido, carpinteiro, no trabalho e, agora, está envolvida na pintura das casas do Moradias Primavera. "Estou caprichando o máximo", conta. Eloína tem cinco filhos e além de trabalhar na obra também está estudando a noite para concluir o ensino fundamental. E diz que tem disposição para fazer todas estas coisas e não desanimar. "Meu ex-marido sempre se queixava de cansaço quando chegava em casa, mas eu não dou bola para isso. Sei que o que estou fazendo vai servir para melhorar a minha vida e a de meus vizinhos", fala.
Cristiane de Fátima Ribeiro, outra moradora da Vila Savana, mãe de dois filhos, trabalhava como garçonete em um restaurante e, desempregada, resolveu encarar o trabalho na construção. Ocupada na pintura de uma casa, lembra que o único contato que teve anteriormente com tintas havia sido com a preparação de caixinhas artesanais. "Estou aproveitando a oportunidade que a construtora me deu para aprender mais e arranjar uma nova profissão", diz ela.
O mesmo pensamento tem Rosana Policarpo Mendes, da Vila Lorena, que tem se ocupado com a parte hidráulica. Sua primeira tarefa, completada com sucesso, foi a instalação de uma pia. "Estou adorando fazer coisas novas", falou. Vanessa Regina Dupczak, também da Vila Larena, estava desempregada há sete meses e diz que está animada com o novo trabalho. "É bom enfrentar o desafio e ver que a gente consegue realizar. Aumenta a autoestima".
De acordo com o supervisor da obra, se estas mulheres continuarem demonstrando o mesmo empenho terão vida longa na construção civil. Elas estão sendo contratadas como serventes, com salário em torno de R$ 600. Se dominarem as demais tarefas do canteiro (como assentamento de tijolos, reboco, elétrica e hidráulica), poderão passar a profissionais da construção e chegar à remuneração de R$ 1,3 mil mensais.

Mulheres são maioria nas Vilas Savana e Lorena

A presença de mulheres no canteiro de obras do Moradias Primavera é reflexo da predominância delas entre os chefes de domicílio nas Vilas Savana e Lorena. De acordo com cadastro do serviço social da Cohab, as mulheres representam 58,10% dos responsáveis pelas famílias na Vila Savana e 56,25% na Vila Lorena.
Nas duas comunidades, o perfil é também semelhante. A maior parte das casas (59% na Savana e 80% na Lorena) é de madeira e a renda familiar é baixa: 58,1% das famílias da Vila Savana e 56,25% da Vila Savana vivem com rendimento de um salário mínimo.