sábado, 21 de março de 2015

Investigações apontam que propina no petrolão foi o triplo do mensalão


 Folhapress




RUBENS VALENTE BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) -

 A Operação Lava Jato, que na última terça-feira (17) completou um ano, levantou indícios de que o repasse de propina a parlamentares, partidos e operadores políticos hoje sob investigação no STF (Supremo Tribunal Federal) foi de ao menos R$ 156 milhões, segundo levantamento feito pela reportagem com base nos depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef O volume representa, em valores nominais, quase o triplo do que foi repassado aos parlamentares da base aliada do governo Lula no escândalo do mensalão, de 2005, segundo lista do operador do esquema, Marcos Valério Fernandes de Souza (R$ 56 milhões). Se forem considerados só repasses documentalmente rastreados pela investigação do mensalão (R$ 37 milhões), o valor da Lava Jato representaria mais de quatro vezes o total que passou pelo valerioduto. Na conta sobre a Lava Jato ainda não entram os ‘US$ 150 milhões ou US$ 200 milhões‘ que, segundo a estimativa feita pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, teriam sido pagos ao PT por meio do tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto. Caso o valor seja confirmado nas investigações, a conta total oscilará de R$ 614 milhões a R$ 770 milhões. Isso representaria, em valores nominais, mais de dez vezes o valor da propina no mensalão do PT. Para chegar ao valor de R$ 156 milhões, a reportagem considerou todos os repasses a agentes políticos informados por Youssef e Costa ao longo de seus 190 depoimentos dados entre agosto de 2014 e fevereiro último, desconsiderando referências em dobro sobre um mesmo repasse e pagamentos atribuídos a ex-diretores (Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque) e outros funcionários da Petrobras. O número pode ser ainda maior, pois em algumas passagens os delatores não deixam claro o valor exato envolvido, falando em ‘diversas entregas‘ como no caso do senador Fernando Collor (PTB-AL). A conta também não considerou os R$ 4 milhões repassados por três empreiteiras (Galvão, UTC e OAS) ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) que, no período dos repasses, de 2009 a 2013, não detinha cargo político. VOLUME Em volume, das operações de financiamento de políticos relatadas pelos delatores duas se destacam: a série de pagamentos feitos a parlamentares do PP (Partido Progressista), num total de R$ 66,8 milhões, e a formação de um ‘caixa dois‘ de R$ 30 milhões que, segundo Costa, ajudou a campanha de reeleição do governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e seu vice na época e atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Os volumes repassados ao PP se destacam porque a investigação tem foco maior na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, que na época era controlada pelo partido, segundo os dois delatores. A terceira maior mobilização de recursos foi o repasse, segundo Costa, de R$ 20 milhões para a campanha eleitoral de Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, por meio do ex-ministro do governo Dilma e hoje senador Fernando Bezerra (PSB-PE). Parte dos valores foi registrada na Justiça Eleitoral como doação partidária ou para campanha eleitoral. Os registros entregues à Justiça pelo PP nacional, da Bahia e de Pernambuco e pelo PMDB de Rondônia, por exemplo, coincidem com as propinas relatadas por Alberto Youssef nas mesmas datas e valores, num total de R$ 3 milhões. ANIVERSÁRIO A Lava Jato veio a público na manhã do dia 17 de março de 2014, com o cumprimento dos primeiros mandados de busca e apreensão emitidos pelo juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro. Em um ano, o caso que começou como uma simples investigação sobre doleiros levantou inúmeras irregularidades envolvendo contratos fechados por grandes empreiteiras com a Petrobras e terminou por apontar o envolvimento de parlamentares, ex-ministros e governadores. Em um ano, os investigadores abriram cerca de 330 procedimentos diversos, entre inquéritos e ações cautelares, dando origem a 19 ações penais até aqui. Onze pessoas permanecem presas na carceragem da Polícia Federal de Curitiba, dentre as quais alguns dos principais empreiteiros do país e o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Vinte e seis inquéritos foram abertos no STF para investigar a conduta de 35 parlamentares federais, além de dois inquéritos no STJ para investigar dois governadores, Pezão e Tião Viana (PT-AC). Outro inquérito deverá tramitar em Curitiba para investigar o relato de Costa de que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teria pedido R$ 2 milhões para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 o doleiro Youssef negou tal operação.