quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sem surpresas, BC eleva taxa básica de juros para 11,75% ao ano


Folhapress




Diante de um cenário de inflação resistente, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu, por unanimidade, elevar ontem  a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, de 11,25% para 11,75% ao ano. O aumento era esperado pelo mercado, apesar de alguns agentes preverem uma elevação ainda mais intensa, de 0,75 ponto percentual.
"A decisão de aumentar o ritmo de alta ocorre após o real ter se depreciado em 4% contra o dólar desde a última reunião do Copom, no fim de outubro", afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. No fim de outubro, três dias após as eleições, o Copom promoveu uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica, surpreendendo o mercado.
Na pesquisa Focus do BC divulgada na segunda-feira (1º), as projeções apontavam manutenção do ritmo de alta, considerando os cerca de 100 analistas consultados. Entre os cinco que mais acertam as projeções, no entanto, a estimativa já era de um aumento de 0,50 ponto percentual.
Desde o mês passado, o BC adotou um discurso mais duro, ao afirmar que não será "complacente" com a inflação e que pode "recalibrar" a política monetária quando e se achar necessário. Assessores da presidente avaliam que o momento é de dar um "choque de credibilidade" na economia, mostrando que o governo não vai tolerar inflação alta e irá reequilibrar as contas públicas.
"A nova equipe econômica vai tentar fazer os ajustes logo, em vez de ir fazendo gradualmente ao longo do próximo ano. Mas o aumento de juros desfavorece a atividade econômica, principalmente a de varejo", afirma Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de recursos Invx Global. "A dinâmica de juros e do varejo está sinalizando uma tendência ruim da atividade econômica no terceiro e quarto trimestre do próximo ano", complementa.
No terceiro trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu 0,1%, saindo, em tese, da recessão técnica em que se encontrava. O termo é usado por uma ala de economistas para designar dois períodos seguidos de declínio. O fraco desempenho do terceiro trimestre foi ditado pela queda do consumo das famílias. As projeções atuais de inflação mostram que o IPCA em 12 meses pode fechar 2014 no teto da meta, de 6,5%. Dentro e fora do governo, já há quem avalie que o índice pode ficar na casa de 7% no início de 2015. Neste fim de ano, devem pesar fatores como a alta do dólar e das passagens aéreas. Em janeiro, já se espera um aumento maior de tarifas e alimentos, que pode deixar o IPCA próximo de 1% (em janeiro de 2014, foi 0,55%).
PERSPECTIVAS
O ciclo de aperto monetário deve continuar nas próximas reuniões do Copom, de acordo com economistas. Em relatório, o Itaú Unibanco diz esperar nova alta de 0,50 ponto percentual em janeiro e uma de 0,25 ponto percentual em março, o que levaria a Selic a 12,5% ao ano. Após essas elevações, porém, o BC interromperia as altas de juros. "O PIB (Produto Interno Bruto) vem fraco e deve demorar a se recuperar. Acredito que a ancoragem das expectativas, que depende das medidas que serão anunciadas pela nova equipe econômica do governo, possa fazer com que a Selic não tenha que subir muito mais do que já subiu", diz João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos. Para Brügger, o BC pode encerrar o ciclo de aperto monetário no começo do ano que vem, provavelmente com a Selic entre 12% e 12,5% ao ano. "Dependendo do desempenho dos indicadores [fiscais e de inflação], pode até haver uma queda [dos juros] no final de 2015", acrescenta. "O aumento nos juros é só uma medida. E as outras? A equipe econômica que irá assumir em breve vai ter que dizer como fará para o governo arrecadar mais e gastar menos. Aumentar imposto sem uma contrapartida é ruim. O governo também tem que reduzir custos. Será doloroso, mas é a maneira correta de fazer para que, daqui a dois anos, possamos voltar a crescer de forma consistente", diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest.