sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Acumuladores viram problema de saúde pública em Curitiba


Levantamento da Secretaria de Meio Ambiente identificou 195 deles, que guardam de tudo, de lixo a animais

  |  Rodolfo Luiz Kowalski - especial para o Bem Paraná

O perfil dos acumuladores começou a ser traçado pela Prefeitura de Curitiba, em março deste ano: eles acumulam de tudo e causam transtorno para si e para os vizinhos (foto: Foto: Jaelson Lucas/SMCS)
Uma doença que muitas vezes passa despercebida é hoje um dos grandes problemas de Curitiba. Segundo levantamento inédito feito pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) a Síndrome de Diógenes, também conhecida como Acumulação Compulsiva, afeta aproximadamente uma em cada 10 mil pessoas que vivem em Curitiba. A síndrome, inclusive, faz parte do Manual de Diagnóstico e Estatística de Desordens Mentais (DSM-5) desde o ano passado, sendo classificada como um tipo de transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
A Prefeitura de Curitiba tem registrado 195 acumuladores — pessoas que guardam grande quantidade de objetos sem valor ou mantém muitos animais domésticos em condições inadequadas. Diferente do que muitos podem imaginar, a doença não tem relação com tendência social, econômica ou geográfica. O estudo do meio ambiente mostra que há casos de  acumuladores tanto em bairros mais pobres — com população com remuneração mensal média de até R$ 1,5 mil — até em bairros considerados nobres, onde os moradores têm renda mensal de mais de R$ 10 mil.

E para tornar a situação ainda mais grave, não são apenas objetos ou entulhos que essas pessoas acumulam. Praticamente metade delas também se “destaca” pelo grande número de animais, na maioria gatos e cachorros, o que pode agravar o isolamento social e aumentar o risco de doenças, além dos problemas com barulho, mau cheiro e o consequente incômodo aos vizinhos.
“Hoje, nosso principal problema são os acumuladores de animais, disparado em primeiro”, afirma Alexander Biondo,  diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna da SMMA, responsável pela Rede de Proteção Animal. “O problema dos acumuladores é que metade tem animais e entulhos. Temos hoje uma estimativa de mais ou menos 2.500 cães nas mãos de acumuladores”, aponta Biondo.
Ele ressalta ainda que esses animais não são cuidados direito, sendo que muitas vezes não são nem alimentados. Além disso, quando são resgatados, costumam apresentar quadros graves de desnutrição e doenças, morrendo muitas vezes durante o transporte.
No ano passado, em um seminário para profissionais da Vigilância Sanitária, Saúde Mental e Ambiental sobre os acumuladores, o secretário municipal da Saúde, Adriano Massuda, afirmou que o problema envolvendo acumuladores é uma “questão complexa” e que precisa de uma solução que não se resuma apenas à limpeza urbana.

Nesse sentido, uma pesquisa feita pelos médicos veterinários Alexander Biondo, Camila Martins e Graziela Cunha aponta que, embora o plano de tratamento e a gestão de cuidados dependa da avaliação individual do paciente, a intervenção multidisciplinar é essencial, “envolvendo aspectos da saúde humana, animal e ambiental, com especial atenção à  prevenção da recidiva, que é perto de 100% nos Estados Unidos”.
Projeto — O perfil dos acumuladores começou a ser traçado pela Prefeitura de Curitiba em março deste ano, em uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). As equipes das secretarias municipais do Meio Ambiente e da Saúde percorreram residências em bairros da Capital. Na fase piloto foram vistoriados cerca de 20 potenciais acumuladores, e serviu para validar o questionário e o formulário de atendimento, aplicados pelas equipes nas residências visitadas. Depois todas as regionais passaram pelo estudo.
O objetivo foi fazer mapeamento e diagnóstico dos acumuladores da cidade e, a partir disto, desenvolver um plano de ação estratégico para atuar em situações de risco, como incêndios, alagamentos ou mesmo em caso de morte do proprietário da casa, além de oferecer o tratamento adequado a cada situação.