domingo, 22 de dezembro de 2013

Especialistas alertam que mania de arrancar cabelo pode virar doença

Na maioria dos casos, as pessoas não percebem que têm o hábito.
Tricotilomania e tricotilofagia podem ser causadas por ansiedade.

Vanessa DuarteG1 Triângulo Mineiro

Pessoas que arrancam e comem cabelo Uberlândia (Foto: G1/G1)Primeiro passo para tratar as doenças é realizar o
diagnóstico (Foto: G1/G1)
“Ela não percebe, mas os outros percebem por você”. É assim que as doenças tricotilomania e tricotilofagia atingem as pessoas que, para controlarem a ansiedade e o nervosismo, arrancam o cabelo e em alguns casos comem os fios. Segundo especialistas, na maioria dos casos não existe consciência do que está sendo feito. Por isso, é necessário realizar um tratamento psicológico.
A tricotilomania, que é o hábito de arrancar o cabelo, e a tricotilofagia, que além de arrancar a pessoa come os fios, podem estar relacionadas a momentos de tensão, situações desagradáveis, ansiedade e até depressão. “O principal sintoma é a ansiedade. A tricotilomania fica mais grave quando ela vira tricotilofagia. Até então o problema era só associado a transtornos psicológicos”, explicou a psicóloga Sirlei Ribeiro Giannini.
O primeiro passo para tratar essas doenças é realizar o diagnóstico. De acordo com Sirlei, o tempo do tratamento depende do grau da doença e no caso de adultos é recomendado o uso de alguns medicamentos que controlam a ansiedade, juntamente com o tratamento psicoterapêutico. “É importante descobrir quais são os hábitos das pessoas, quando acontece isso e depois descobrir alguma forma de distrair as pessoas para elas fazerem outras tarefas”, afirmou.
Ainda segundo a psicóloga, essas doenças podem causar insegurança e desconforto, pois as pessoas sentem vergonha em admitir que arrancam e até comem fios de cabelo. Sirlei Ribeiro disse que o hábito pode ser passageiro, mas também pode causar sérios problemas. “As pesquisas indicam que atingem principalmente as adolescentes. Evitar as doenças é complicado. É preciso estar atento ao comportamento e ao estresse,  saber lidar com situações de ansiedade e não deixar que isso se torne um problema crônico”, alertou.
Uma secretaria de 25 anos, que não quis se identificar, contou que tem tricotilomania há dez anos. Ela começou a perceber o problema com 15 anos e quando passava a maior parte do tempo em casa, assistindo televisão. “É mais por causa do estresse e ansiedade. Minha mãe percebia que tinha muito cabelo na sala e perguntava o motivo e eu falava que era meu e que arranquei sem ver”, declarou.
Segundo a secretaria, ela não sente dor e só percebe que arranca os fios quando o braço começa a doer. Depois de procurar um médico, a jovem fez algumas consultas psicológicas e atualmente conta com a ajuda dos familiares e amigos. “Meu cabelo está crescendo ainda com o tratamento psicológico. Não uso nenhum medicamento. As pessoas que estão ao me redor que ficam me policiando para eu não arrancar cabelo”, informou.
Pessoas que arrancam e comem cabelo Uberlândia (Foto: G1/G1)Em alguns casos é necessário realizar tratamento dermatológico com uso de medicamentos (Foto: G1/G1)













A dermatologista Cíntia Cunha Cardoso informou que, geralmente, os fios arrancadas pelas pessoas que têm tricotilomania ou tricotilofagia nascem novamente. Porém, em alguns casos é necessário realizar um tratamento dermatológico. “O dermatologista vai passar medicamentos para o cabelo crescer mais rápido. Quando a pessoa desconfia que tem um transtorno, ela tem que procurar o dermatologista que vai diagnosticar se é a tricotilomania ou outras doenças que causam a queda de cabelo”, explicou.
De acordo com Cíntia, o cabelo nasce de um a dois centímetros por mês. Um tratamento dermatológico para os pacientes que arrancam os fios pode durar de quatro a seis meses. “Em seis meses conseguimos preencher bastante a área afetada. Existem alguns tipos de laser que ajudam na recuperação dos fios”, disse.
Um fio de cabelo vai enrolando com o outro e forma um bolo"
Silvio Capparelli
Na maioria das vezes, as pessoas arrancam fios de cabelo em apenas uma região do couro cabeludo, o que não leva a calvície precoce. A secretaria que tem tricotilomania, por exemplo, puxa os fios com a mão que mais utiliza. “Eu só arranco de um lado. Eu sou canhota e arranco do lado esquerdo”, contou.
Segundo a dermatologista, as doenças podem atingir crianças quando, por exemplo, os pais estão se divorciando. Ela disse ainda que no caso dos menores é necessário contar com a ajuda dos professores, já que eles podem arrancar e até comer o cabelo na escola. “No adulto ela é mais grave do que na criança, talvez porque o adulto carrega um estresse maior. Na criança ela pode sumir sozinha com o passar dos anos”, afirmou.
As pessoas que têm tricotilofagia, além de realizar tratamento com um psicólogo e um dermatologista, precisam procurar um gastroenterologista, pois a ingestão de fios de cabelo forma um bolo denominado tricobezoar. “Um fio de cabelo vai enrolando com o outro e forma um bolo. Esse tricobezoar impede que a pessoa coma direito, porque o espaço no estômago diminui. A pessoa não consegue comer, mas o apetite continua o mesmo. O cabelo ocupa espaço, por isso ela come menos”, explicou o gastroenterologista Silvio Demetrio Pavan Capparelli.
Em alguns casos, Capparelli explicou que é necessário abrir o estômago parar tirar o bolo de cabelo e em outros o tricobezoar pode ser removido no exame de endoscopia. “Quando a pessoa come muito cabelo ela fica desnutrida e nem sempre tem como tirar o cabelo por endoscopia. Quando forma um bolo muito grande não tem como tirá-lo naturalmente, sem cirurgia”, ressaltou
.