sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Restos mortais de líder camponês vítima da ditadura poderão ser exumados na terça-feira


Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O mistério sobre o local onde foi enterrado o líder camponês maranhense Epaminondas Gomes de Oliveira poderá ser esclarecido na próxima terça-feira (24). Epaminondas, membro do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), organização derivada da Ação Popular, foi declarado morto há 42 anos, sob custódia do Exército, em 20 de agosto de 1971, aos 68 anos. Ontem (19), a Comissão Nacional da Verdade coordenou (19) os preparativos para o trabalho de exumação dos restos mortais no Cemitério Campo da Esperança, na capital federal, que deve ocorrer na próxima terça-feira (24).
Para o trabalho será usado o equipamento Ground Penetrating Radar (GPR), que detecta a existência de restos humanos sob a terra. "Hoje estamos fazendo uma diligência preparatória da exumação. A gente está fazendo um escaneamento do solo, e o equipamento diz qual a configuração do terreno, a profundidade da cova e o material que a gente deve esperar encontrar quando fizer a escavação propriamente dita", disse à Agência Brasil o gerente de projetos do Grupo de Mortos e Desaparecidos Políticos da CNV, Daniel Lerner.
Epaminondas foi preso no garimpo de Ipixuna do Pará, em 9 de agosto de 1971, em uma operação do Exército para prender líderes políticos da oposição na região do Bico do Papagaio (divisa tríplice entre o Pará, Maranhão e Tocantins, então Goiás). Após ser levado aos municípios de Jacundá (PA) e Imperatriz (MA), foi conduzido a Brasília, onde morreu sob a custódia do Exército, no Hospital da Guarnição Militar.
De acordo com Lerner, a CNV conseguiu informações sobre o local do enterro após examinar documentos da Operação Mesopotâmia, feita pelo Exército em 1971, na divisa entre os estados do Maranhão e de Goiás (atualmente Tocantins). "Chegamos a descoberta deste local a partir de um documento oficial, e pesquisando aqui, nos registros do cemitério, a gente descobriu o local de fato. Com a ajuda do pessoal do cemitério, nós conseguimos chegar ao que a gente acredita deva ser o real local do sepultamento", disse.
Epaminondas foi um dos desaparecidos políticos reconhecidos oficialmente pelo Estado brasileiro. Em depoimento à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, a viúva de Epaminondas, Avelina Cunha da Rocha, disse que "os militares não tiveram a coragem de entregar o corpo". A documentação oficial informava que o líder camponês foi enterrado em Brasília e que a responsabilidade pelo traslado caberia à família.
O mesmo documento registra que a sepultura não poderia ser aberta antes de 1976. Para a Comissão da Verdade, um sinal de que poderia se tratar de tentativa de impedir a identificação da prática de tortura. "Pela experiência em outros casos, é um dado muito suspeito, porque esse tipo de causa mortis, de anemia, ou alguma crise renal ou hepática, é comum a pessoas submetidas à tortura por longos períodos", disse Lerner.
A família de Epaminondas, no Maranhão e no Pará, autorizou a exumação e acompanhará o processo. Após os exames de DNA, caso a identificação seja positiva, ela poderá pedir o traslado e fazer o enterro dos restos mortais de Epaminondas na cidade natal, Porto Franco, no Maranhão. O neto do líder camponês, Epaminondas de Oliveira Neto acompanhará o processo. "Nós vamos acompanhar a exumação e possivelmente será feito um exame de DNA. Se der positivo, nós vamos trazer os restos para cá", disse Oliveira Neto à Agência Brasil.