quarta-feira, 11 de julho de 2012

Programa acelera a recuperação de idosos com atenção permanente


Saúde em Casa




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Portadora da Doença de Alzheimer, a dona de casa Maria Alice Moraes completa 86 anos nesta quarta-feira (11). Mesmo acamada, vai ter comemoração na casa onde ela mora com o neto Rogério Nicolini, a esposa dele, Sirlene, e os bisnetos Vinícius e Emanuele. É também em casa, rodeada dos familiares de várias gerações, que Maria Alice é atendida pela equipe do programa Saúde em Casa, da Secretaria Municipal da Saúde.
O Saúde em Casa tem contribuído para acelerar a recuperação dos pacientes idosos próximos da família e com observação permanente. O acompanhamento da evolução do estado de saúde daqueles que já tiveram alta do hospital ou mesmo de quem não teve necessidade de internação é a meta do programa, um diferencial do Hospital do Idoso Zilda Arns. O trabalho busca melhorar a eficiência dos cuidados que precisam e podem ser observados fora do hospital ou da unidade de saúde. Em Curitiba, são oito equipes multiprofissionais: seis delas com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e duas com nutricionistas, assistentes sociais e farmacêuticos. Pioneiro, o programa precedeu o Melhor em Casa – estratégia semelhante lançada pelo governo federal no final de 2011.

Desde que foi implantado, em abril deste ano, o programa Saúde em Casa atendeu a cerca de 250 idosos oriundos dos hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), dos Centros Municipais de Urgências Médicas (CMUMs) e acompanhados pelas unidades básicas de atendimento. Pelo protocolo de atendimento, as visitas prosseguem por 30 dias, inclusive à noite e nos fins de semana, conforme a necessidade da paciente
 
“Fizemos um hospital de ponta para atender aos idosos que precisam de cuidados que só podem ser prestados durante o internamento, mas também garantimos excelência de atendimento para os que têm alta ou podem ser acompanhados na própria casa, em meio a parentes, dentro do ambiente em que estão familiarizados”, diz a secretária municipal da Saúde, Eliane Chomatas. 


Atendimento - Depois de 19 dias internada no Hospital do Idoso, onde entrou em meados de junho e saiu na última sexta feira (6), a aniversariante Maria Alice continua acamada, mas já senta e levanta com a ajuda da fisioterapeuta Elaine Cristina da Luz e do auxiliar de enfermagem Anderson Tiago da Silva Santos. A dupla faz parte de uma das equipes coordenadas pelo enfermeiro intensivista Altair Damas Rossato, gerente do programa. 

São os primeiros movimentos de Maria Alice depois da pneumonia que a levou, inicialmente, ao Centro de Urgências Médicas (CMUM) Cajuru e agravou o seu estado de saúde. “Ela só não tem paciência quando vê muita gente em torno dela. Diz pra gente ir trabalhar, uma vez que nós podemos e ela não”, conta Sirlene, esposa do neto Rogério. 

Os exercícios propostos pela equipe têm função específica. “Nesse momento é muito importante o fortalecimento da mobilidade e da função pulmonar”, explica a médica geriatra Amanda Teixeira Ruela Oliveira, que ainda está conhecendo detalhes da vida da nova paciente. 

As palavras da médica são ouvidas com atenção por Izabel Cristina Moraes Conceição, de 59, uma das quatro filhas de Maria Alice. Consciente sobre a importância da participação da família nos cuidados com a paciente, Izabel deixou o trabalho de cozinheira em Apucarana, no norte do Paraná, para cuidar da mãe.

“Tudo o que eu puder fazer e aprender para ajudar na recuperação dela interessa. Como é quase certo que será na minha casa que ela vai ficar quando estiver melhor, preciso dominar cada detalhe porque eles não estarão em Apucarana”, resume, referindo-se aos profissionais de saúde do ADS, que só podem prestar atendimento aos pacientes do SUS em Curitiba. 

Vínculo forte - A cerca de 2 quilômetros da casa onde se hospeda Maria Alice vive Neusa Ferreira Luder, de 80 anos, acompanhada pela mesma equipe de atendimento domiciliar. Portadora de bronquite, artrose e hipertensão, em maio sofreu uma queda que lhe rendeu uma fratura no fêmur e outra no punho esquerdo.
O resultado foi um longo período de internação no Hospital Cajuru. Saiu de lá há cerca de três semanas, de cadeira de rodas - que ainda usa, apesar de o ortopedista já tê-la liberado para andar. 

“Ela estava na cozinha, de bengala, fez um movimento com o corpo e caiu. Agora está com medo de sentir dor e cair de novo”, acredita a filha Solange Elisabeth Luder, de 54 anos, que vive com a mãe, na mesma casa, desde que nasceu. “Por isso nosso desafio é fazer dona Neusa se mexer, caminhar, ganhar autoconfiança”, diz a doutora Amanda, que acompanha a idosa agora em dias alternados. 

Solange adianta outra meta. Cicatrizada a ferida nas costas causada pelos muitos dias na cama do hospital, conta a filha, quer ver a mãe se alimentando melhor. “Ela está recusando comida de panela e tem comido apenas coisas como iogurte e gelatina. Está bem mais magra”, diz referindo-se à mulher que, nas fotos dos porta-retratos e nas paredes da sala de visita, aparece como uma mulher cheinha desde a juventude.

O emagrecimento e a relutância em caminhar novamente não tiram o humor da idosa, que se alegra com a chegada da equipe, nem afetam sua memória. “Acho que também vou precisar de uma plástica pra ficar com uma cara melhor”, diz ela, que ralha de brincadeira com a filha quando ela lhe pergunta se nasceu em Rio Negro ou Mafra.  “Ela sabe que eu sou de Rio Negro. Está só me testando”, diz a idosa, que tem paixão pelas cadelinhas Nina, Leca e Paquita e, entre os profissionais de saúde que freqüentam sua casa, um carinho especial por Tiago, o técnico de enfermagem.

Assim como Tiago, as quatro colegas da equipe de suporte domiciliar estão tendo a primeira oportunidade profissional de prestar atendimento na fase aguda da manifestação de problemas de saúde de pacientes acamados. A maioria teve experiência inicial com serviço privado - normalmente acionado no agravamento de condições crônicas, quando o problema de saúde já está instalado.

Vantagens - A enfermeira Vanderlúcia Gonçalves de Oliveira resume as vantagens da forma de trabalho. “Logo que o paciente tem alta é o momento ideal de se trabalhar também com os familiares, que no começo normalmente têm medo de tudo: da nova condição do parente, de machucá-lo, de perdê-lo. Aos poucos, com o aprendizado resultante das nossas orientações, isso se transforma em força e confiança. É diferente de quando já existem rotinas de atendimento ao paciente, mesmo que elas sejam inadequadas”, diz.

Segundo Vanderlúcia, há casos em que o cuidador sofre mais que o paciente e demora a entender que, por causa do Alzheimer ou de um acidente vascular encefálico, que o parente não se movimentará, falará ou agirá como antes. Outros têm dificuldade de, nos primeiros dias depois da alta, prestar atendimentos simples ao idoso e ficam muito assustados. 
Foi o caso da mulher que, em estado de choque, assistia o marido sangrar pelo nariz no momento em que a equipe chegou para a visita de rotina.
“Demos banho no paciente, fizemos a barba e trocamos a roupa de cama com tranquilidade, Então ela foi percebendo que aquele sangramento era uma intercorrência pequena que ela poderia administrar perfeitamente. Foi aprendendo enquanto via a gente fazendo o que, da próxima vez, caberia a ela e aos demais familiares”, lembra. “Sem essa ajuda, essa e outras pessoas sofreriam muito mais e teriam poucas possibilidades de ser efetivamente úteis aos seus familiares”, completa.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia / Seção Paraná, Débora Christina de Alcântara Lopes, a maior virtude do serviço de suporte domiciliar ao idoso criado em Curitiba reside na multidisciplinariedade. 
“O paciente precisa de cuidado, mas o familiar, o cuidador, precisa de orientação para saber como dar conta dessas atribuições. É aí que entram, além da figura do médico, profissionais como o fisioterapeuta e o nutricionista. É um serviço de ponta, de excelente qualidade e, acima de tudo, um grande avanço”, completa a especialista.