quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Telegramática, ajudando a escrever e falar corretamente

Com s ou z, sem hífen, vai crase, o pronome certo, o verbo bem colocado, a pronúncia correta. Na hora de escrever e falar bem, os curitibanos têm na mão um serviço rápido e eficiente, o Telegramática, da Prefeitura, que completa 25 anos em 2010, com 65 mil consultas, em média, por ano. Basta ligar para o telefone 3218-2425.

"O modelo do nosso serviço é pioneiro no país. Pelo número de acessos, podemos dizer com certeza que o Telegramática é um sucesso", afirma o prefeito Luciano Ducci.

A coordenadora do Telegramática, Beatriz de Castro Cruz, conta que inicialmente a proposta do serviço era socorrer os profissionais que trabalham com a escrita, como professores, advogados, jornalistas, escritores, secretárias e as demais categorias que usam linguagem escrita como ferramenta de trabalho.

"Sempre funcionou como uma espécie de "oficina" para consertar possíveis "defeitos" no texto. Mas com o tempo, o serviço passou a atender pessoas interessadas em falar bem, para causar uma boa impressão aos interlocutores. Por isso temos todo tipo de acervo no serviço", diz Beatriz.

O Telegramática atende o público com os tradicionais e atualizados dicionários da língua portuguesa e mais os dicionários jurídico, médico,de filosofia, psicologia, psiquiatria, administração, de finanças e de marketing, além de manuais de redação jornalística e comercial. "Temos até dicionário de sexo, pois o serviço atende a todos os públicos, sem distinção", afirma Beatriz.

Falar bem - Em relação à fala, as principais dúvidas dos que acessam o serviço estão ligadas à pronúncia correta das palavras, à colocação dos pronomes e aos tempos verbais. São dúvidas muito parecidas com as da escrita, só que os que usam o Telegramática querem saber como falar bem sem parecer artificial, empolado demais.

A coordenadora Beatriz Cruz lembra que a forma correta de se expressar é fundamental para o currículo profissional. "Se numa entrevista de emprego, o candidato, mesmo tendo um bom currículo no qual reúne grande experiência na área, não apresentar um bom desempenho verbal possivelmente perderá a vaga para outro com mais desenvoltura oral e com menos experiência em termos técnico".

Sirlei Cavali, consultora do Telegramática, destaca que tanto a linguagem oral quanto a escrita tem regras próprias. "Quando a pessoa fala, ela se permite adaptar a linguagem ao público e ao ambiente no qual está se comunicando. Escrever bem é um dever, pois a comunicação escrita nos seus mais variados gêneros de textos - contratos, correspondência comercial, artigos de jornal, obras literárias - exige a forma culta", diz.

Quem usa - São a eficiência e rapidez na resposta que fazem o Telegramática ser cada vez mais procurado por profissionais liberais, como a advogada Maristela Busetti, 45 anos e 10 de carreira. Ela busca o serviço não somente para sanar dúvidas na hora de redigir uma petição judicial, mas também para socorrê-los quanto à verbalização oral.

Coordenadora jurídica do Detran-Pr, a advogada sempre fica na dúvida, quando, numa audiência, tem que usar o verbo viger, por exemplo. Ela explica que para sair da armadilha da conjugação verbal, apela para outras formas de dizer a mesma coisa, sem tropeçar no verbo. "Então, ao invés de dizer que a lei passou a viger, eu digo que a lei passou a vigorar, passou a valer", confessa.

Maristela conta que certos advogados ainda optam pela linguagem empolada do juridiquês porque dependendo do público com o qual ele irá falar, será mais interessante que nem todas as partes tenham boa compreensão da situação. "Claro que estou falando de exceções. O direito moderno exige clareza na fala e concisão no texto. Por isso vejo esse serviço da prefeitura como uma grande ferramenta, da qual muitas vezes nos valemos".

A psicopedagoga, Jacinta Caron, 54 anos, "freguesa" do Telegramática desde o início, considera o serviço "excelente". Para ela um verdadeiro quebra galho. "O português é uma língua muito ambígua, então é importante que tenha alguém que esclareça", diz ela que sempre recorre ao pessoal do serviço para sanar dúvidas em relação a concordâncias, colocação de pronomes e crases, gramática em geral. "Várias vezes há discussões sobre gramática entre os professores, que são encerradas ao ligar para o serviço do Telegramática", conta.

Além de eliminar dúvidas, o serviço oferece comodidade. Carolina Benini, publicitária, usa o serviço desde 2001, quando conseguiu seu primeiro emprego como redatora de agência. Para ela o Telegramática é perfeito e rápido. "Muito mais fácil que pegar um livro para tirar as dúvidas. Confio muito nas respostas. Uso sempre. Agora mais ainda por causa das novas regras da língua portuguesa. Tenho muitas dúvidas de concordância", afirma.

Auto-estima - Histórias interessantes não faltam. Beatriz afirma que o modo de falar poderá interferir profundamente no aspecto psicológico da pessoa. Ela conta que recebeu ligação de uma professora que precisou falar numa reunião administrativa e, lá no meio de sua explanação, ela disse "trata-se de uma perda muito grande (...)". E uma colega a corrige dizendo "perca".

Ao final da reunião, ainda insatisfeita ela emendou: "como que uma professora pode falar errado desse jeito!". Na dúvida, a professora recorreu ao Telegramática e descobriu que quem estava errada mesmo era sua interlocutora. "Mas ela, quando nos ligou, estava arrasada, com a auto-estima lá no chão", diz a coordenadora do serviço.

Um outro episódio demonstra o quão importante é a linguagem. Pode até incrementar ou destruir relacionamentos. Desta vez, um rapaz ligou bem chateado ao Telegramática, dizendo que havia escrito um bilhete para a namorada e ela ao terminar de ler singela declaração de amor, sem rodeios, o corrigiu quanto ao emprego de pronomes. "Então ele me perguntou o que deveria fazer" Prontamente, na mesma medida de sua namorada, sugeri que terminasse o namoro", conta Beatriz, demonstrando que na linguagem falada e até mesmo na poesia, "nos são permitidas certas licenças".

O professor Carlos Alberto Faraco, professor do Departamento de Linguística da UFPR, afirma que "quanto mais camaleões lingüísticos nós formos, melhor possibilidade de comunicação (...)". Para a consultora, as pessoas sempre devem se preocupar com o ambiente e com o público, e que o mais importante de tudo é ter clareza e se comunicar bem. "Sempre digo que para a linguagem falada vale aquela máxima: não vá à igreja de biquíni e nem de vestido à praia".

Redação - A redação sempre foi uma pedra no sapato do estudante que pretende ingressar na universidade. Todos os anos, a imprensa divulga as famosas pérolas dos vestibulandos, ressaltando o lado negativo das redações.

Beatriz afirma, porém, que gradativamente percebe-se uma melhora, a cada ano, na construção do texto argumentativo. Segundo ela, os alunos estão usando mais elementos articuladores e baseando-se em argumentos mais convincentes. "No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, pois a falta de leitura e de conhecimento de mundo ainda é muito grande, o que origina frases de senso comum, sem profundidade", avalia.