quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Corrida das Nascentes: 91,5 km de ecologia e superação na RMC






A 5ª Corrida de Revezamento das Nascentes do Rio Iguaçu, que acontecerá neste domingo (30), reunirá 1.200 atletas, divididos em 110 equipes. O número de participantes é recorde. Em 2008, a corrida teve 790 inscritos. Os corredores terão o tempo máximo de 9 horas para percorrer os 91,5 km da prova, que passa por Curitiba e mais seis municípios da Região Metropolitana: Piraquara, Quatro Barras, Campina Grande do Sul, Colombo, Almirante Tamandaré e Campo Magro.

Dividida em dez etapas, a prova apresentará diferentes graus de dificuldades com variação de piso - asfalto e terra - e de topografia. A largada será às 7h30, em frente à Prefeitura de Piraquara. A chegada será em Curitiba, no Bosque São Cristovão, em Santa Felicidade, onde será servido um almoço típico italiano aos participantes.

"A Corrida das Nascentes visa à integração dos municípios da Região Metropolitana", diz o prefeito de Curitiba, Beto Richa. O trajeto passa por áreas urbanas e rurais. "São caminhos desconhecidos para a maioria dos moradores das cidades envolvidas, que dão uma visão privilegiada aos participantes da força e do potencial de toda a região", afirma Michele Caputo Neto, secretário de Assuntos Metropolitanos de Curitiba.

Vencedora nas duas últimas edições na categoria masculina, a Capis Sport promete repetir o feito. "Temos conhecimento que várias equipes querem nos vencer, tanto que até eu, que apesar de inscrito não iria participar, vou correr para melhorar o desempenho do grupo", afirma Marcos Capistrano, atleta profissional e treinador da equipe. A Capis Sport é formada por trabalhadores, que as terças e quintas-feiras se reúnem na praça Osvaldo Cruz, a partir das 19 horas, para treinar.

As histórias dos participantes da corrida envolvem também superação e a descoberta de novos caminhos, como a do engenheiro aposentado Minoru Mise, que começou a correr para fugir do sedentarismo. Levou tão a sério a proposta que iniciou a faculdade de educação física, concluída no último semestre, aos 62 anos de idade.

Por ter tempo livre, Minori começou a organizar a participação de interessados em corridas. "Fiquei responsável pelas inscrições, buscar o material e distribuir aos participantes. Agora, por ter o conhecimento técnico também atuo como orientador físico dos participantes". Hoje o grupo reúne cerca de 160 pessoas, de 19 a 62 anos e profissões como balconista, médico, militar, estudante e aposentado.

Na 5ª Corrida das Nascentes Minori inscreveu três equipes, sendo uma exclusivamente feminina. "Nossas participantes sabem que vão enfrentar um grande desafio. Há trechos com alto grau de dificuldade, como morros e pedras soltas, que podem prejudicar o desempenho da atleta. Mas como sempre se diz, o importante é participar", afirma.

Já o pequeno agricultor Faustino Rosenente, 74 anos, não disputará a prova das nascentes, mas terá um local privilegiado para assistir à prova: a varanda de casa, em Campina Grande do Sul, onde mora há mais de 60 anos. "Todo ano é muito bonito ver esse pessoal passando", conta.

O trajeto e o revezamento de equipes

Em termos técnicos, a definição do trajeto da prova é uma intrincada logística de caminhos, a maior parte na área rural. Em média a cada 10 quilômetros acontece uma troca de participante, sendo que a responsabilidade pela organização do ponto de transição é do município onde ele está localizado. Cabe também à equipe do município a sinalização e fiscalização do trajeto, para que nenhum corredor tenha dúvida do caminho a seguir e com isso perca tempo, o que pode fazer diferença na reta final.

As equipes acompanham o trajeto com carros de apoio que levam os participantes para os pontos de transição determinados, bem como recolhem aqueles que já cumpriram seus trechos. "A Corrida das Nascentes realça uma característica especial das corridas de revezamento: o estreito relacionamento entre a equipe para definir quem pode render melhor em determinado trecho para que o resultado final seja a vitória", explica Rudimar Fedrigo, secretário do Esporte e Lazer de Curitiba.

O aspecto ecológico também tem destaque dentro do regulamento. Nenhum tipo de lixo, garrafas ou latas podem ser abandonados pelos participantes ao longo do percurso. A equipe que comete a infração é punida com 15 minutos no tempo total da prova, o pode perder a oportunidade de estar entre as três melhores equipes colocadas por categoria ou ser a campeã geral.

As 110 equipes inscritas neste ano estão assim divididas: aberta masculina - 48 equipes; veterana masculina - 7 equipes; aberta feminina - 7 equipes; e mista - 48 equipes. Todas buscam a melhor estratégia para conseguir uma boa colocação.

Percurso - postos de transição

> LARGADA - Piraquara (em frente à Prefeitura) - 7:30
> Posto 1 - Quatro Barras - Banco Itaú
> Posto 2 - Campina Grande do Sul - Ginásio de Esportes
> Posto 3 - Colombo - "Pinheiro"
> Posto 4 - Colombo - Esc. Mun. São José
> Posto 5 - Colombo - Esc. Mun. Bortolo Cavassin
> Posto 6 - Almirante Tamandaré - "Trincheira"
> Posto 7 - Almirante Tamandaré - Escola
> Posto 8 - Campo Magro - Lagoa
> Posto 9 - Campo Magro - Esc. Mun. João Menegusso
> CHEGADA - Curitiba (Parque São Cristóvão - Santa Felicidade)

Premiação


Por participação: os atletas de todas as equipes que concluírem a prova dentro do tempo máximo previsto (9 horas) receberão Medalha de Participação.
Por categoria: a equipe classificada em 1° lugar, por categoria receberá um Troféu. Todos os atletas das equipes que obtiverem o 1°, 2° e 3° lugar, também por categoria, receberão Medalhas de Premiação.
Campeã Geral: será premiada com um Troféu de Campeã Geral (masculino e feminino) a equipe que obtiver o primeiro lugar geral na competição (menor tempo). Os atletas componentes desta equipe receberão Medalhas de Premiação de Campeão Geral. A cerimônia de premiação às equipes vencedoras ocorrerá no Bosque São Cristóvão, após o término oficial da prova.

As nascentes do rio Iguaçu

Enquanto percorrem trechos de asfalto e estradas de terra, os participantes da Corrida das Nascentes passam por um dos mais ricos mananciais do estado. São nascentes, afluentes e rios que dão origem ao rio Iguaçu, marco da integração do Paraná. Só em Piraquara são mais de 1.100 nascentes, fazendo com que 90% da área do município seja considerada área de preservação ambiental. Em Curitiba são 280. Campo Magro, 350. Almirante Tamandaré se orgulha de ser o berço do Barigui, um dos mais importantes rios da capital e em Colombo nascem o Palmital e o Bacaitava.

Nascente é o afloramento do lençol freático que dá origem a uma fonte de água de acúmulo, como as represa, ou um curso d'água. O conceito de que estão somente no meio de bosques, na área rural, não é verdadeiro. Elas são encontradas também em áreas urbanas. Temos exemplos em Curitiba. No bairro do Ahú, há uma próxima à movimentada via rápida; em uma rua urbanizada do Jardim Santos Andrade, no Campo Comprido, encontra-se outra na calçada, devidamente protegida por uma tampa de concreto.

Um dos desafios do poder público é garantir a sua manutenção. Quando encontradas em áreas públicas cabe aos órgãos competentes garantir a preservação, seja através da construção de jardinetes, pequenas fontes ou até de parques, como o Parque das Nascentes, localizado em Curitiba. Nas áreas privadas a responsabilidade é dos proprietários, que cada vez mais demonstram uma consciência ambiental positiva.

"As nascentes são como as veias e artérias do nosso corpo. Não é somente uma que forma este ou aquele rio. Estamos falando de um conjunto que precisa de cuidados especiais", explica Cynthia Hauer de Mello Leitão, do Centro de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, e coordenadora do trabalho "Preservando as Nascentes", que desde 1999 mapeia as nascentes na capital.

Um dos indicativos de que este trabalho tem sido bem feito vem da pesquisa da bióloga Odete Lopez Lopes, da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba. Na coleta de material em várias nascentes da Região Metropolitana de Curitiba ela encontrou uma espécie de camarão e duas de caranguejo que são indicativos da qualidade da água e da ausência de resíduos químicos como os agrotóxicos.

"Encontramos a Aegla, que é uma espécie de caranguejo, na nascente do Rio Barigui. Este dado é importante, pois com a nascente preservada há maior probabilidade do trabalho de despoluição da bacia do rio como um todo apresentar resultados positivos", comenta Odete. O projeto de despoluição está em andamento com a realocação de famílias ribeirinhas e a fiscalização para a detecção de ligações clandestinas de esgoto.

Para Maria Alzira Souza, diretora de Meio Ambiente de Almirante Tamandaré, iniciativas como a Corridas das Nascentes são importantes para colocar o tema em evidencia. "As nascentes são o ponto de partida para a composição dos grandes reservatórios que abastecem todos os municípios envolvidos na competição, bem como para a formação do rio Iguaçu. Um evento deste porte ajuda a divulgar e conscientizar tanto os participantes como a população".

O turismo no trajeto da corrida
Nos últimos anos, os municípios da Região Metropolitana incluídos no trajeto da Corrida das Nascentes têm se empenhado em destacar seus pontos turísticos de forma organizada. Mesmo que não estejam à vista dos atletas participantes da corrida, estão disponíveis a toda população que busca alternativas de lazer regionais. ?O turista que visita Curitiba, e mesmo os moradores da capital, encontram aqui, bem próximo, atrações rurais e naturais diversificadas", afirma Michele Caputo Neto, secretário de Assuntos Metropolitanos de Curitiba.


Piraquara
O destaque no município é o Caminho Trentino dos Mananciais, que agrega atrações divididas em turismo de aventura, rural, ecológico, cultural, histórico e gastronômico. Destaque para o Morro do Canal, a Aldeia Indígena Araçá-í, o Centro de Educação Ambiental Mananciais da Serra e a Represa do Carvalho. Há ainda o Museu do Trem que conta com 250 objetos da Rede Ferroviária, entre livros, quadros, uniformes, utensílios domésticos.


Quatro Barras
Em Quatro Barras os participantes da Corrida das Nascentes percorrem um pequeno trecho da Estrada da Graciosa, primeira ligação comercial entre a capital e o litoral, e que faz parte dos Caminhos Históricos da Serra. De lá é possível visualizar ao longe a represa do Iraí, um dos reservatórios que abastecem de água Curitiba e região. A cidade ainda abriga o Morro do Anhangava, a Cachoeira do Tigre entre outros atrativos.


Campina Grande do Sul
Na cidade o destaque fica por conta do forte aspecto rural. São muitos quilômetros de estradas de terra onde estão chácaras com plantações de hortaliças, pessoas que têm no cavalo seu meio de transporte para ir à escola e pequenas propriedades com animais de criação como vacas e cavalos, além de outras de lazer.


Colombo
Há dez anos a cidade conta com um bem desenvolvido projeto turístico com o Circuito Italiano de Turismo Rural, que conta com 60 pontos turísticos que reúnem lazer, história, gastronomia, cultura e religiosidade. Destaque para os restaurantes, chácaras onde são produzidos vinhos e produtos coloniais, bem como a beleza natural do Parque Municipal Gruta do Bacaetava.
Almirante Tamandaré

Com o Circuito da Natureza o município oferece várias opções em pesque-pague, restaurantes e chácaras com produção de produtos artesanais como embutidos.

Campo Magro
Os 42 quilômetros do circuito Verde que te Quero Verde oferecem opções diversificadas de lazer como os cafés coloniais e produtos artesanais, trilhas ecológicas, pesque-pague, as Cachoeiras Gêmeas, o Morro da Palha, o Aeroclube de Campo Magro e o Observatório do Colégio Estadual.

Curiosidades
1. Ser corredor de rua no Brasil é fazer parte de um grupo que cresce a cada dia. Estima-se que hoje o país tenha 4 milhões de aficcionados por corrida de rua, só perdendo para os atletas de futebol. A modalidade movimenta cerca de R$ 3 bilhões anuais consumidos em assessoria técnica, suplementos alimentares, artigos esportivos - um par de tênis pode chegar a R$ 800 reais - e até turismo com o deslocamento e hospedagem para a participação nas provas.


2. As corridas de revezamento de rua são uma paixão brasileira. Dificilmente esta modalidade é encontrada em outros países - falando da Europa e Estados Unidos. No exterior são mais comuns as corridas individuais com destaque para as maratonas e meias-maratonas.


3. Outros exemplos de corrida de revezamento de destaque no Brasil: Maratona de Revezamento Bertioga-Maresias (SP) , Maratona Brasília de Revezamento (DF), Corrida de Revezamento Montain DO (SC), Volta à Ilha (SC), Super 40 (SP e RJ) entre outras.


4. As corridas de rua surgiram e se popularizaram na Inglaterra no século 18, difundindo-se em seguida para o resto da Europa;


5. Nos Estados Unidos as corridas de rua se popularizaram no final do século 19, após a 1ª Maratona Olímpica;


6. Os anos de 1970 foram emblemáticos para as corridas de rua nos Estados Unidos, quando o médico Kenneth Cooper criou o "Teste de Cooper". Foi também nesta época que se passou a permitir a participação de populares junto com os corredores de elite, com largadas em pelotões respectivos.